O Mecanismo.
“O MECANISMO da corrupção,
não é necessariamente hereditária e cultural.
Afinal, a corrupção é uma opção e escolha!”
Aos 10 anos, fizesse chuva ou fizesse sol, caminhávamos de casa para a escola e da escola para casa, em grupo, todos os dias.
Incrível como o ser humano, de qualquer idade, reage diferente, quando está em bando! Trata-se da “Psicologia de Massa e Análise do Eu”, como Freud explica tanto.
Le Bon também opina a respeito, da seguinte maneira:
“O que há de mais singular numa massa psicológica é que, quaisquer que sejam os indivíduos que a compõem, por mais semelhantes ou dessemelhantes que sejam seus modos de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, a mera circunstância de sua transformação numa massa lhes confere uma alma coletiva, a partir da qual sentem, pensam e agem de modo inteiramente diferente do que cada um deles sentiria, pensaria e agiria isoladamente. Há ideias e sentimentos que só surgem ou se transformam em ações nos indivíduos ligados numa massa”.
Em minha maneira de compreender a evolução da vida humana e a construção social, acredito que este tema ainda será muito debatido no futuro, bem mais do que em todas as eras! E, é por conta deste fenômeno que, em uma destas idas e vindas em grupo, surgiu a “brilhante” ideia de invadirmos uma plantação de milho do caminho.
Cada criança levaria para si, a quantidade que conseguisse suportar dos milhos roubados! Transformei a camiseta numa bolsa e cheguei em casa carregando o saco de milho, como uma conquista para a família. Afinal, não se via um artigo deste luxo todo em casa há tempos!
Naquele momento, me sentia “o provedor”. Eu só havia me esquecido de um detalhe, neste processo: “Eu era filho da NICE”! E, acredite, isso tem um significado fortíssimo!
Ao ver as espigas, todas alinhadinhas na mesa, separadas por tamanho, foi logo perguntando:
_“Quem deu?”.
_“Ninguém deu. Eu trouxe.”, respondi.
_“E, quem deu a você?”, perguntou.
_“Ninguém. Peguei do Vidrick” (o dono do milharal).
_“Ele te viu pegando e não disse nada?”, insistiu.
_“Imagina, ele nem me viu pegando”, declarei, de peito estufado.
A história que segue, passou a compor um dos grandes pilares da minha consciência e vida posterior:
_“Alguém te ajudou a trazer tudo pra casa?”, perguntou novamente.
Senti mudar o tom de sua voz e respondi, já bem menos empolgado:
_“Eu carreguei sozinho”.
_“Ótimo. Coloca tudo naquela sacola ali. Você vai devolver e vai se desculpar com a pessoa que teve o trabalho de plantar, para colher exatamente estas espigas que você pegou. Eu vou junto porque isso é importante!”.
E, assim se sucedeu. Já que carreguei sozinho, não tive ajuda para levar de volta. Parecia pesar 3 vezes mais, desta vez. Mas, o que realmente importa, são as marcas que aquela atitude imprimiu em minha consciência adulta e que valem mais do que um MBA.
E, são elas: “Se não é meu, não me pertence”, “Se deseja colher, então tem que plantar”, “Se desejo fazer diferença, devo proceder conforme minha individualidade única, sem jamais me deixar induzir pela manada”, “Valendo a pena ou não, dando retorno ou não, em minha casa só entra e só se compreende como ganho, aquilo que é adquirido por meio de conquista, entregando resultados em cada iniciativa”.
E, se há algo a empreender nesta vida, que seja sobre este lastro e fundamento! Não existem vencedores no mundo do LUCRO FÁCIL: Só existem prostitutas!
É fato que “O MECANISMO” da corrupção, não é necessariamente hereditária e cultural. Afinal, a corrupção é uma opção e escolha! Mas, para mim, está claro que uma boa educação hoje, pode transformar o mundo num lugar melhor e mais justo para se viver amanhã!
DENIS SANTOS ceo@nicegrupo.com